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Justificativa encaminhada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP para a criação do Núcleo de Psicopatologia, Políticas Públicas de Saúde Mental e Ações Comunicativas em Saúde Pública – NUPSI

Nos últimos tempos, vem ocorrendo em nosso meio acadêmico acentuado crescimento de atividades interdisciplinares voltadas à pesquisa e ao ensino em psicopatologia e saúde mental, atividades fomentadas no campo teórico e prático das ações comunicativas em saúde pública.

Tal crescimento de atividades interdisciplinares suscita a conveniência da coordenação intercientífica de metas e projetos elaborados por expressivo número de docentes, pesquisadores e alunos situados em diferentes unidades da USP, como também em relevantes centros de pesquisa nacionais e internacionais externos à universidade.

Assim, fez-se sentir a necessidade de reunir interativamente, articular, socializar e dinamizar participativamente tais atividades de ensino e pesquisa em um programa de cultura e extensão universitária, em consonância à Resolução CoCEx nº 4940, de vinte e seis de junho de 2002, segundo a qual:

  • a extensão universitária é um processo que articula o ensino e a pesquisa de forma a viabilizar a interação transformadora entre a universidade e a sociedade;
  • a relação entre ensino, pesquisa e extensão universitária enriquece o processo pedagógico, favorecendo a socialização do saber acadêmico e estabelecendo uma dinâmica que contribui para a participação da comunidade na vida universitária.

Além disso, a existência de um núcleo especificamente ligado à Psicopatologia e à Saúde Pública justifica-se também pelo caráter essencialmente interdisciplinar que caracteriza tanto a Psicopatologia como a Saúde Pública e que se articula com a própria razão de ser de um Núcleo na Universidade de São Paulo, que tem como vocação primeira constituir lugar de entrecruzamento de saberes e experiências que não podem ser reduzidas a nenhuma área específica da ciência.

A Psicopatologia deita raízes na tradição médico-científica e na tradição humanista (filosofia, literatura, artes e psicanálise), relacionando-se com as mais variadas expressões do conhecimento humano e sendo irredutível à psiquiatria, à neurologia, à psicologia, à filosofia ou à psicanálise. Uma de suas principais características é a multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos, que ela tem incorporado nos últimos 200 anos. Para Dalgalarrondo “a psicopatologia, campo dos mais complexos, exige uma atitude aberta, despreconceituosa e multidisciplinar”.[1]

Em consonância com essas ideias, consideramos que vale a pena recusar alternativas exclusivas de abordagem, sejam elas psicanalíticas, fenomenológicas, biológicas, cognitivo-comportamentais ou socioculturais. Ao contrário, vale tomar conhecimento do que há de útil e esclarecedor em cada uma delas e colocar os seus saberes em diálogo.

Por seu turno, a Saúde Mental, tal como contemplada no âmbito da Saúde Pública, define-se por meio de seu aspecto coletivo, multidisciplinar, positivo, centra-se na saúde e em sua promoção, visa grupos populacionais – e, dessa forma, vai ao encontro da interdisciplinaridade própria a um Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária.

No âmbito das diversas temáticas da saúde – saúde da criança e do adolescente, saúde do trabalhador, saúde ambiental, condutas de alimentação, saúde da mulher – a saúde mental apresenta-se, suplementarmente, como uma temática transversal e afim a ações comunicativas que configurem atividades de extensão, articuladas a atividades de pesquisa e de ensino.

Na esteira de Habermas, entendemos a ação comunicativa como uma racionalidade prática que emerge da convivência e da interação dos sujeitos sociais e que pode ser contraposta ao esvaziamento ético do direito, da economia e da política, subtraídos da discussão social dos valores da justiça à medida que o processo de racionalização instrumental vai restringindo a esfera pública às técnicas de correção das disfuncionalidades do Estado.

Neste sentido, as ações comunicativas devem e podem cumprir papel fundamental na inclusão social, bandeira comum das políticas públicas contrapostas à precarização e à escassez de trabalho e à desassistência aos sofrimentos psíquicos e físicos da população. Isso porque, antes de tudo, as ações comunicativas articuladas à dimensão social da saúde constituem recurso estratégico para dar voz e participação às comunidades na determinação do sentido da inclusão social que se venha a praticar.

Assim sendo, consideramos pertinente e justo que ações psicossociais comunicativas na área sanitária se deem em uma instância universitária de fomento a atividades interdisciplinares no campo da formação, da pesquisa e da extensão.

O NUPSI tem por escopo atender a estas diretrizes mediante as seguintes modalidades extensivas previstas no Regimento de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo, aprovado pela referida Resolução CoCEx nº 4940:

  • Participação em projetos comunitários;
  • Elaboração de diagnósticos;
  • Supervisão de estágios não-obrigatórios;
  • Cursos de especialização;
  • Divulgação nos meios de comunicação do conhecimento produzido mediante radiodifusão, colóquios e publicações;
  • Armazenamento digital do conhecimento produzido e divulgado.

Tal escopo tem também como importante horizonte oferecer um campo de atividades interdisciplinares para professores, estudantes e pesquisadores de diferentes unidades da USP inseridos em programas de graduação e pós-graduação nos níveis de mestrado e doutorado, de maneira a articular e enriquecer reciprocamente os diversos campos teórico-práticos compreendidos nas ações psicossociais comunicativas na área sanitária.

A fim de explicitar os conteúdos e demonstrar os fundamentos de seu escopo, aprofundando a justificativa dos motivos e das razões de sua propositura, o item seguinte apresenta a Carta de Princípios do NUPSI.

Referências

1. Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed (2ª ed.), 2008, p. de frontispício. ↑